segunda-feira, 24 de agosto de 2015

“Ao cheiro desta canela o Reino se despovoa”

O ideal de vitória do comum adepto português é o resumo da sua índole em 134 caracteres: no último minuto, com um golo em fora-de-jogo e marcado com a mão, num contra-ataque depois de ter sido perdoada uma grande penalidade. De preferência, contra o maior rival.
É compreensível que todos os adeptos prefiram ganhar, pois é da vitória, e não da derrota, que se retira o prazer mais imediato. O estranho é que povo queira espectáculo, mas exigindo vitórias, surgindo elas como surgirem. Ou seja, perante a escolha entre a beleza de um jogo de futebol e a euforia da consagração dos vitoriosos, o adepto largará o inefável pelo vil metal da taça. Porém, finda a vindima, lamentar-se-á que, apesar do efémero regozijo, foi de proverbial franciscana pobreza, o entretenimento.
Factor atroz, este, pois, apesar de exógeno ao que se passa no campo, em muito condiciona o que são as vicissitudes do desporto, globalmente entendido. Por muito que os dirigentes dos clubes queiram dar ares de ditadores de pacotilha, também eles se deixam levar pelas ululações da turbamulta, descartando uns, incluindo daqueles que, por muitos desafios que tenham encontrado, conseguiram já conquistar o que deles se exige, em prol de outros que em melhores graças estão, junto dos apaniguados, por prometerem, ainda que sem base alguma de sustentação, novas, maiores e mais épicas conquistas.

Releva, tudo isto, da incapacidade de analisar racionalmente o que se passa no jogo, de dissociar a emoção das jogadas vertiginosas que se sucedem, em catadupa, de um lado para o outro, da realidade de bem jogar futebol. Isso é algo que envolverá mais ou menos controlo, mais ou menos domínio, mais ou menos pausa, mais ou menos aceleração; mas, e sobretudo, envolverá sempre uma ideia coerente e reiterada. Um jogo, um determinado jogo, pode ser imensamente divertido sem que nenhuma das equipas saiba o que está a fazer em campo. E não vem daí mal ao mundo. No entanto, e mais ainda neste rincão em que tão pobres jogadores as equipas têm ao seu dispor, muito dificilmente uma equipa dessas poderá ganhar um campeonato. Porque não basta acreditar. É preciso saber em quê...

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